terça-feira, 5 de outubro de 2010

Comparativo no primeiro turno de 2010: pesquisas x resultado do TSE

Comparativo entre o resultado oficial das eleições presidenciais 2010 no primeiro turno e as últimas pesquisas divulgadas apresentou surpresa apenas na substancial perda de votos da candidata Dilma Rousseff.

Resultado oficial 2010 - TSE (primeiro turno)

Total de votos: 111.193.747

Brancos: 3.479.340 (3,13%)

Nulos: 6.124.254 (5,51%)


Dilma - PT: 47.651.434 votos (46,91% dos votos válidos)

Serra - PSDB: 33.132.283 votos (32,61% dos votos válidos)

Marina - PV: 19.636.359 votos (19,33% dos votos válidos)

Demais candidatos – 1.170.077 votos (1,15 % dos votos válidos)

 

A porcentagem alcançada por cada candidato no universo total de votos (contando nulos e brancos) ficou assim:

 

RESULTADO OFICIAL DO TSE:

 

Dilma – 42,85%

Serra – 29,79%

Marina – 17,65%

Demais candidatos –  1,05%

 

Pesquisas divulgadas no dia 02/10/10 (véspera da eleição)

 

IBOPE

Dilma – 47%

Serra – 29%

Marina – 16%

Demais candidatos: 1%

 

DATAFOLHA

Dilma – 47%

Serra – 29%

Marina – 16%

Demais candidatos: 2%

 

VOX POPULI

Dilma – 47%

Serra – 26%

Marina – 14%

Demais candidatos: 1%

 

Comentário: confrontados com os números oficiais do TSE, os institutos Datafolha e Ibope só erraram (considerando a margem de erro) na porcentagem conseguida por Dilma. Todos os institutos cravaram 47% para Dilma, mas ela obteve apenas 43% pelo resultado oficial. O Vox Populi errou também nas porcentagens conseguidas por Marina e Serra.

 Portanto, a maior surpresa foi a evasão de cerca de 4% dos votos de Dilma nos últimos momentos da eleição. Creditar a Marina tal evasão de última hora faz sentido apenas em parte, já que, pelas pesquisas, ela só teve o ganho de 1,5% dos votos. Faz sentido dizer, aí sim, que ao longo dos últimos dias Marina herdou muitos votos de Dilma – fenômeno este que parece não ter beneficiado de forma substancial o candidato Serra.

 Talvez a evasão de 4% de Dilma se explique também pela média de 10% de votos nulos nas regiões onde a vantagem de Dilma era maior, ou seja, Norte de Nordeste e também os Estados de Minas e Rio. Nas outras regiões e mais o Estado de São Paulo (onde a vantagem de Dilma era menor), a média dos votos nulos ficou em 5%, ou seja, a metade.

 Partindo do pressuposto que as pesquisas eleitorais são sérias, um fenômeno deverá ser analisado pela campanha da candidata Dilma: o porquê da perda de cerca de 7 milhões de votos em praticamente 10 dias; e por que, deste total de 7 milhões de votos, 4 milhões  - segundo as pesquisas, reitero - evaporaram num único dia.

(Publicado no Portal Nassif em 06 de outubro de 2010)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O poder da indústria de boatos

 A onda de boatos numa eleição não pode ser analisada como um fator circunstancial, ou seja, algo que se espalha por aí como que por “geração espontânea” que, em progressão geométrica, pode atingir níveis devastadores para um candidato. Digo isto porque, dois anos atrás, conheci de perto todo um processo de mentira e difamação conscientemente arquitetada que acabou decidindo as eleições para prefeito num município de porte médio. Até por não dispor de elementos comprobatórios (entenda-se então esta trama como “hipotética”), vou preservar o nome da cidade e dos protagonistas. Digamos que o nome da cidade é Sucupira. Qualquer semelhança com fatos reais em outras eleições terá sido mera coincidência (?).


A gestação dos boatos

No município de Sucupira tínhamos, entre vários candidatos a prefeito com carreira política conhecida, a candidata Fulana, que tinha sido reitora por dois mandatos consecutivos (total de oito anos) da universidade local. O perfil político e pessoal da candidata destoava, pois, dos concorrentes tradicionais: embora não fosse uma novata na política, Fulana nunca tinha disputado um cargo eletivo que não fosse a disputa para a reitoria da universidade. No âmbito pessoal, Fulana tinha meia-idade e era solteira. Bom, com o início da campanha eleitoral, a candidata Fulana disparou nas pesquisas eleitorais até liderar como folga a disputa. Cogitava-se, inclusive, que a decisão da eleição poderia ficar no primeiro turno.

Concomitante à vertiginosa ascensão de Fulana, comecei a receber vários e-mails (spams) que destruíam a reputação dela. Para se ter uma noção do nível das mensagens, um dos e-mails fazia menção à orientação sexual de Fulana. E muitos e-mails eram repassados por próprios conhecidos meus que passei a chamar de “aloprados da internet”, ou seja, aqueles que indiscriminadamente repassam spams (que nunca trazem uma fonte crível da informação) na base do “apenas repassando”. Como se tal providência – “estou fazendo a minha parte em repassar a denúncia” – fosse pré-requisito para a construção da cidadania.

Outro e-mail que recebi denunciava uma “bomba” que iria destruir a candidata Fulana, que teria cometido várias falcatruas na universidade quando era reitora. As “provas dos crimes” eram os anexos com vários documentos apócrifos com supostos inquéritos sobre “corrupção”. Como sempre, não havia um único dado concreto; um único link para que o leitor tivesse a mínima chance de verificar se aquilo tudo era verdadeiro.


O espalhafato

De início, não relevei os e-mails que tinham o claro objetivo de denegrir Fulana. Mas a chamada “luz amarela” acendeu quando ouvi um relato de uma amiga que tinha ido a uma festa beneficente. Lá pelas tantas, as convidadas resolveram falar da sucessão municipal. Eis que a anfitriã da festa desandou a falar da candidata Fulana que, na opinião dela, era uma “bandida” que tinha dado “altos tombos” na universidade quando era reitora. Minha amiga, eleitora de Fulana, contestou. Mas a anfitriã insistiu dizendo que o filho dela tinha visto na internet e que “estava tudo documentado”.  

Depois, fiquei sabendo por intermédio de um político local que o adversário de Fulana tinha contratado dezenas de artistas profissionais especialmente para espalhar boataria na cidade. O comando de campanha já tinha inclusive mapeado, em cada bairro, todos os pontos estratégicos (bares, padarias, mercados, igrejas, praças, filas, pontos de ônibus lotados etc.) e também os líderes e “fofoqueiros” conhecidos de cada região para que os boatos fossem dissipados com maior eficiência. No princípio, achei ridícula tal acusação com cara de teoria conspiratória. Mas, com o passar dos dias, aconteceu uma inexplicável queda de Fulana nas pesquisas. E resolvi rever o meu conceito sobre a tal “teoria conspiratória” quando enxerguei que a minha própria ignorância em determinados assuntos me tornava suscetível a sofrer a influência de pessoas desconhecidas.  


A arte da aliciação

A “técnica” (por assim dizer) da aliciação usada naquelas eleições faz sentido para quem entende que, em qualquer campanha (seja ela política ou comercial), a difamação proferida por uma pessoa comum é muito mais poderosa do que a propaganda oficial do produto. Ou seja: por melhor que seja a propaganda do biscoito da marca “X”, ela será muito menos eficiente do que a anti-propaganda de um cidadão desconhecido que porventura comentar perto de você: “achei um pedaço de barata dentro do biscoito “X”. Isto lembra a lenda da cobra que teria matado uma criança numa piscina de bolinhas numa famosa rede de lanchonetes. Embora fosse pura lenda, o fato é que as mamães tomaram pânico pelas piscinas de bolinhas.

Pessoalmente, já perdi as contas de quantas vezes me deixei levar pela propaganda positiva de desconhecidos sobre determinada marca de produto exposto num supermercado, por exemplo. Por outro lado, já deixei de comprar um produto alimentício de marca desconhecida simplesmente porque tinha ouvido duas senhoras conversando, sendo que uma delas disse convicta que o produto daquela marca era “uma porcaria”. Assim, se você é leigo no assunto, tende a acatar aquilo como verdade.

Quando lembro daquelas duas distintas senhoras conversando sobre uma marca de alimento que “não prestava”, constato a tamanha eficiência dos diálogos populares que “grampeamos” involuntariamente no nosso dia-a-dia. Outro dia mesmo, numa fila de banco, prestei muita atenção no diálogo de dois homens logo atrás de mim. Falavam da sucessão presidencial e não se conheciam. Não “metiam o pau” em candidato algum; apenas comentavam que uma das candidaturas iria surpreender. E ali, ouvindo aquele diálogo despretencioso, eu aceitava aquilo como verdade. Aquilo sim é a genuína “opinião pública. E lembrei da suposta contratação de atores para plantar fofocas. Perguntei-me: e se aqueles dois sujeitos fossem atores? E se aqueles dois desconhecidos, ali na fila, convergissem para o fato de que o político Fulano é corrupto?  Quantos ali iriam acatar o diálogo como verdade? E quantos iriam repassar isto aos familiares e amigos?


O uso dos religiosos

Naquela malfadada eleição em Sucupira, outro fato mereceu destaque – mas desta vez feito às claras pelo candidato adversário de Fulana: o pedido de apoio a praticamente todas as igrejas evangélicas da cidade. Havia até a promessa de que eles teriam participação ativa num eventual governo. Porém, já circulava a notícia que, no underground daquele pedido de apoio aos líderes religiosos, estava a baixeza de espírito que “denunciava” a orientação sexual de Fulana, que não tinha marido, não tinha filhos e que assim, por desconhecer o valor da tradição, da religião e da família, não tinha capacidade moral para administrar uma cidade.

O que mais reforçava a tese de que a “teoria conspiratória” poderia não ser tão delirante assim era a própria campanha oficial na TV do candidato. Nas inserções de 30 segundos na TV, declarações de atores e populares levantavam dúvidas sobre Fulana. Um ator com feição grave fechava um discurso desta forma: “E aí!? Você tem certeza que conhece a Fulana?”; noutras inserções, populares supostamente escolhidos aleatoriamente nas ruas também falavam de Fulana. Um deles, por exemplo, dizia ao “repórter”: “Fulana? Ela é estranha, né?”.

E no horário eleitoral da TV do candidato, este começou a mostrar toda sua família reunida na sala da casa: filhos, netos e até uma empregada que era considerada “parte integrante da família”. Depois, na cozinha, o candidato foi preparar junto com os netinhos um prato italiano, quase que numa comédia pastelão que visava mostrar que aquilo sim era a verdadeira felicidade e união de uma família que seria levada para toda a cidade. E a Fulana? Ora, "Fulana é estranha, né?"

Resultado: no segundo turno da eleição, a candidata Fulana foi ultrapassada pelo adversário, que acabou ganhando por pouquíssimos votos.

Aquela eleição não foi uma vitória do adversário de Fulana. Foi, isto sim, uma vitória da baixaria e do preconceito contra a mulher.

(Publicado no Portal Nassif dia 04 de outubro de 2010).


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Comparativo das pesquisas no primeiro turno na reta final - 2006 x 2010

 2006

A partir do resultado oficial das eleições presidenciais no primeiro turno, em 2006, fiz um levantamento comparativo entre três institutos de pesquisa: Datafolha, Ibope e Vox na reta final daquela campanha. Na ocasião, a divergência era mínima entre os institutos.

Resultado oficial 2006 (primeiro turno)

Total de votos: 101.998.221

Votos válidos:  95.838.220 (93,96%)

Brancos e nulos: 6.160.001 (6,03%)

Lula - PT: 46.662.365 votos (48,61% dos votos válidos)

Alckmin - PSDB: 39.968.369 votos (41,64 dos votos válidos)

H. Helena - PSOL: 6.575.393 votos (6,85% dos votos válidos)

Crisovam – PDT: 2.538.844 votos (2,64% dos votos válidos)

A porcentagem OFICIAL de 2006 alcançada por cada candidato levando em conta o universo total de votos ficou assim:

Lula: 45,74%

Alckmin: 39,18%

H. Helena: 6,44%

Cristovam: 2,48%

Demais candidatos: abaixo de 1%


Pesquisa divulgada pelo IBOPE em 27/09/06 (quarta-feira)

Lula: 48%

Alckmin: 32%

H. Helena: 8%

Cristovam: 2%

Demais candidatos: 1%


Pesquisa divulgada pelo Datafolha em 27/09/06 (quarta-feira)

Lula: 49%

Alckmin: 33%

H. Helena: 8%

Cristovam: 2%

Demais candidatos: 1%


Pesquisa divulgada pelo IBOPE em 30/09/06 (sábado, véspera da eleição)

Lula: 45%

Alckmin: 34%

H. Helena: 8%

Cristovam: 2%

Demais candidatos: 1%


Pesquisa divulgada pelo Datafolha em 30/09/06 (sábado, véspera da eleição)

Lula: 46%

Alckmin: 35%

H. Helena: 8%

Cristovam: 2%

Demais candidatos: 1%

--------------------------------------------------

2010

Últimos resultados de 2010:

IBOPE (divulgado em 29/09/10)

Dilma: 50%

Serra: 27%

Marina: 13%

Plínio: 1%

Demais candidatos: 1%


Datafolha (divulgado em 29/09/10)

Dilma: 47%

Serra: 28%

Marina: 14%

Plínio: 1%

Demais candidatos: 1%


Voxpopuli (tracking até 30/09/10)

Dilma: 49%

Serra: 26%

Marina: 12%

Plínio: 1%

Demais candidatos: 1%

Comentário: a divulgação das pesquisas no próximo sábado (02/10/10), véspera da eleição, dará um panorama mais claro do que poderá acontecer nas urnas. Meu palpite é que, pela média das pesquisas, a diferença entre a candidata Dilma Rousseff e a soma dos demais candidatos ficará, como em 2006, na margem de erro em favor da candidata do PT - mas com um pouco mais de folga que Lula teve naquela ocasião. Em 2006, as pesquisas indicaram o estrito empate entre Lula e seus concorrentes. Depois, pelo resultado oficial do TSE, Lula ficou cerca de 3 pontos aquém da soma dos seus concorrentes, forçando pois o segundo turno.

Vale lembrar que, naquelas eleições de 2006, a chamada "dança dos números" estava mais instável - ainda mais com o furacão das denúncias do chamado "escândalo do dossiê dos aloprados" na reta final da campanha. E pelo que apontam as últimas pesquisas neste ano, as oscilações dos números estão mais tênues.

(Publicado no Portal Nassif em 01 de outubro de 2010)

sábado, 4 de setembro de 2010

O dia em que Lula pediu voto a Collor

Estamos na campanha eleitoral de 1989, em pleno debate do segundo turno. Naquele ano, o Brasil tentava deixar o passado para trás - passado este que o então presidente José Sarney era parte integrante.

Naquele segundo turno, Lula obteve amplo apoio - inclusive do próprio PSDB dos áureos tempos de Mário Covas. E um apoio surpreendente veio da própria declaração do presidente Sarney, que declarou voto em Lula.

Pois no debate, Collor "jogou na cara" de Lula exatamente sobre esse apoio de Sarney. Lula então respondeu serenamente (atenção: a transcrição não é exata):

Por que eu deveria achar ruim o voto de Sarney? Pelo contrário, fico até muito honrado. Eu até acho muito nobre da parte dele (Sarney) que, após errar tanto, agora ele encerre o mandato dele com um acerto. O voto é livre e qualquer um pode votar em mim; inclusive você (Collor), se quiser votar em mim, não farei objeção alguma

Lula provocou gargalhadas da platéia enquanto Collor, sorrindo amarelo, fez um "não" com a cabeça.

(Publicado no Portal Nassif no dia 4 de setembro de 2010)



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Para Jornal Nacional, ser operário é "punição dura"

Não estou aqui para julgar as estranhezas da Coréia do Norte. Mas nesta quarta-feira uma notícia do Jornal Nacional chamou a atenção: a FIFA está investigando uma suposta "violação aos direitos humanos" praticado pela Coréia do Norte, que teria "punido" os jogadores da seleção norte-coreana de futebol pelo vexame na Copa da África.

E qual teria sido a punição? Para os jogadores, ouvir um sermão, de pé, durante seis horas. E para o técnico, segundo o Jornal Nacional, a "punição mais dura" (sic): ser obrigado a trabalhar como operário na construção civil.

Curiosa essa filosofia que impregna a lógica do chamado "Mundo Ocidental" e que, ao que parece, o J.N. passou o recibo. E se a "punição" fosse, por exemplo, obrigar o técnico a trabalhar como jornalista, comerciante ou professor ? Quais os limites que os "padrões sociais" impõem para julgar que exercer determinada profissão pode ser enxergada como humilhação ou punição?

Já vi essa história antes noutro telejornal, mas que, diferente do JN, foi passada acidentalmente ao público num vazamento de áudio: aquela dos garis que, segundo o apresentador, são "os mais baixos da escala do trabalho".

Clique AQUI para a matéria do J.N.

(Publicado no Portal Nassif em 12 de agosto de 2010). 

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O CQC e o factóide da "PEC da cachaça"

 Dicionário Aurélio: 

Factóide: fato, verdadeiro ou não, divulgado com sensacionalismo no propósito deliberado de gerar impacto da opinião pública e influenciá-la.

O programa CQC – Custe o Que Custar, humorístico da TV Band -, exibiu no dia 16/06/10 um quadro baseado numa “pegadinha” com alguns deputados – fazendo-os assinar uma PEC propondo adicionar a cachaça na cesta básica do brasileiro. E o resultado foi este: o programa fez sucesso, ecoou na internet e despertou ainda mais a fúria do grande público em relação aos políticos.

Na melhor das hipóteses, o programa em questão serviu para nos alertar da cautela que devemos ter naquilo que assinamos. Se fosse este o foco – “até pessoas importantes assinam documentos sem ler” –, o CQC conseguiria fazer um serviço de utilidade pública com pitada de humor. Mas em vez disto, o programa não passou de um sensacionalismo barato, jogando mais lenha na fogueira em que arde o prestígio dos políticos brasileiros. E o foco acabou sendo este: “os políticos são tão incompetentes, que eles assinam as leis sem ler”. Para piorar a situação, um dos deputados reagiu de forma insana e agrediu a equipe do programa – dando, pois, mais tempero ao “show” e dando mais margem à indignação popular: “além de incompetentes, são truculentos”.  

Para entender por que falo em sensacionalismo barato, melhor é partir de um exemplo prático buscado nos próprios profissionais (burocratas, empresários etc.) que precisam assinar diariamente incontáveis calhamaços. Com a rotina, muitos acabam confiando suas assinaturas menos naquilo que está escrito e mais naquelas pessoas que estão portando os papéis para serem assinados. Um empresário, por exemplo, compenetrado numa reunião qualquer, pode tranquilamente assinar sem ler um documento acidentalmente trazido pelo funcionário, que o comunica superficialmente sobre o assunto tratado no papel. Sim: muitos assinam sem ler direito. É um equívoco, pois, confundir o descuido pessoal (assinar uma PEC sem ler) de alguns políticos com os graves desmandos que acontecem na política em geral. Em outras palavras: um deputado que assina uma PEC sem ler não é necessariamente um homem público ruim.  


Entendendo uma PEC

Agora, para entender a bobagem do CQC, é conveniente uma ligeira explicação sobre o significado e os trâmites de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição)...

O procedimento preliminar de uma PEC é o deputado (autor da proposta) elaborar um ofício e buscar a assinatura dos colegas Pare este fim, ele normalmente escala funcionários ou contrata pessoas. Foi o que o CQC fez: contratou uma moça para colher assinaturas para uma PEC fictícia de um deputado também fictício. E pelo que o CQC mostrou, alguns deputados assinam uma PEC sem ler direto. Isto até porque a assinatura preliminar numa PEC tem caráter informal; reversível... Sem falar que, bem ou mal, existe uma praxe de coleguismo entre os deputados, quando um político da oposição assina uma PEC do político da situação – ou vice-versa. É como se o deputado quisesse dizer ao colega que, no campo pessoal (extra-partidário, ou, antes de o partido sentar para discutir a proposta), há sempre boa vontade. Em suma: é uma assinatura tecnicamente volátil, não trazendo, em rigor, efeito prático algum. Pois a proposta fatalmente voltará de maneira formal ao conhecimento do deputado e ele poderá retirar (ou manter) sua assinatura de acordo com a orientação do seu partido. Mas se for uma proposta esdrúxula e até ilegal (como foi o caso), ela nunca voltará ao deputado, pois morrerá bem no início de um longo e exaustivo processo.

Então chega alguém com uma PEC propondo o aumento de um item na cesta básica do brasileiro e o deputado, na melhor das intenções (presume-se), assina. Qual o crime nisto? Como o programa CQC não exibiu o documento, podemos ainda presumir que a expressão “cachaça” estivesse truncada ou mesmo substituída por uma das suas várias adjetivações – ou ainda embaralhada numa linguagem empolada para confundir o leitor menos atento. Depois, vai a "repórter" jogar na cara do deputado o que ele assinou. E o constrangimento é óbvio para fazer um espetáculo circense em pleno Congresso Nacional, provocando (às vezes de forma injusta) a fama de incompetente a determinado político. Pois para o leigo, a assinatura numa PEC já é lei. Foi o que o programa quis deixar entender.

Pois então qual é o efeito prático (“grave” e “absurdo”) de um deputado assinar uma PEC propondo a marvada na cesta básica? Nenhum! Explica-se...

 As assinaturas numa PEC só dão o direito a determinado deputado de protocolar a proposta que, depois, passa por um rigoroso trâmite. E para ter direito de protocolar a proposta, o deputado precisa de 171 assinaturas dos colegas. Depois disto, segue para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania avaliar o mérito da matéria. Já aqui, a “PEC da cachaça” já estaria morta, ainda mais que a proposta não tinha autoria legítima. Mas vai que, por um surreal acidente de percurso, fosse aprovada...

 Se aprovada, a PEC volta para a Câmara para ser (aí sim) discutida, precisando de 3/5 de aprovação (308 votos dos deputados) em dois turnos. Daí o deputado pode manter ou retirar sua assinatura. Se aprovada na Câmara, segue para o Senado, onde passa pelos mesmos trâmites (também em dois turnos, sendo necessários 49 votos dos senadores).


Congresso Nacional não é circo

O ardil (qual outro nome?) do CQC, que em nada contribui para a moralidade na política, só serviu para trazer constrangimentos desnecessários a alguns deputados – e, claro, para denegrir a imagem de um Congresso já fartamente torpedeado e com a credibilidade em baixa. Razões para isto, claro, não faltam.

Foi cogitada entre alguns deputados a hipótese de coibir “brincadeiras” do tipo dentro do Congresso Nacional. Por sua vez, integrantes do CQC e mesmo profissionais de TV reclamam da “censura”, ou, “cerceamento da liberdade de imprensa”. Creio que andam confundindo liberdade com libertinagem, ou, leviandade.

Você pode (e deve) ter todos os motivos do mundo para reprovar os políticos e a condução da política nacional como um todo; o político pode (e deve) aceitar que uma equipe de TV leve humor que venha a quebrar de maneira saudável as tensões no seu ambiente de trabalho. Por sua vez, a imprensa deve gozar de plena liberdade para (com humor ou sem humor) exercer o trabalho dela, denunciando todo e qualquer vício, principalmente no espaço democrático que é o Congresso Nacional. Mas, definitivamente, ali não é lugar de palhaçada. 

O link para o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=lpuhlMpv5Fk

(Publicado no Portal Nassif dia 22 de julho de 2010; Publicado no Observatório da Imprensa em 27 de julho de 2010).


domingo, 27 de junho de 2010

O dia em que Roberto Freire furou a fila - e perdeu um voto.

Vivíamos o calor das primeiras eleições diretas após um longo período de ditadura. Por isto, o que monopolizava o debate naquela época era muito menos a economia do país e muito mais o perfil ideológico dos candidatos. E Roberto Freire (PCB) figurava como "esquerda" e servia para muitos intelectuais como uma espécie de coringa na rivalidade entre os eleitores de Brizola (PDT) e Lula (PT). Na época, eu não entendia muito bem a diferença entre o PC do B (que estava coligado com o PT) e o PCB (hoje PPS) de Freire. Um amigo explicou de forma irônica, porém bem didática: "PC do B significa Partido Comunista do Brasil; e PCB significa Partido Comunista Burguês". A despeito dessas contradições ideológicas da vida, lembro de um constrangimento vivido por Roberto Freire no dia da eleição e que foi registrado numa pequena "nota de bastidores" num jornal. Foi um incidente pequeno, porém emblemático.

No dia 15 de novembro de 1989, o primeiro turno daquelas eleições, Roberto Freire, em Pernambuco, resolveu acompanhar a filha (que votava pela primeira vez) à seção eleitoral dela. A fila para votar estava grande e, após as saudações dos populares ao candidato, uma moça que aguardava sua vez percebeu uma movimentação em torno dos mesários da seção. Em pouco tempo, a filha de Freire foi chamada para votar - "furando" assim a fila e passando na frente dos outros eleitores. E a moça (que tinha percebido tudo) começou a protestar em voz alta diretamente com o candidato: "É assim que o senhor pretende governar o Brasil?". Enfim, a indignada fez a declaração derradeira; algo como: "Eu ia votar no senhor, mas depois dessa não voto mais".

(Publicado no Portal Nassif em 27 de junho de 2010).



terça-feira, 22 de junho de 2010

Torpedão Confusão

O chamado "Torpedão Campeão", uma promoção da Copa 2010 liderada por uma emissora de TV junto a um pool de quatro operadoras de telefonia móvel, insiste em não esclarecer de forma objetiva aquela que tem sido a maior dúvida dos participantes. É o que se percebe no próprio blog que uma das operadoras montou para esclarecer as dúvidas dos clientes (vide link mais adiante). Assim, muitas pessoas, sem querer, estão comprando cupons adicionais para a participação nos sorteios - quando, na verdade, intentavam a compra de apenas um cupom. E a turma do celular pós pago só vai perceber o prejuízo quando vier a conta...

Para entender o problema, basta ler o regulamento ou assistir na TV as "informações" passadas pelos promotores, nos sorteios. Estes dizem o seguinte: você compra um pacote de 30 (trinta) torpedos por R$ 4,00 "para se comunicar", liga para o número 2010, responde à pergunta proposta e pronto: já está participando do "Torpedão Campeão". Esta informação, dada de forma invertida, está gerando muita confusão nas pessoas que participam ou desejam participar. Digo "forma invertida" porque a forma mais plausível da promoção seria: "compre um cupom e ganhe grátis 30 torpedos". Ainda assim, ficaria no ar a dúvida: os 30 torpedos sevem para quê? Pois muitos estão confundindo “cupom” com “torpedo”, julgando que os 30 torpedos são bônus que devem ser enviados à promoção. Observe-se, pois, que o próprio título – “Torpedão Campeão” – induz ao equívoco.
 
Enfim, para resumir a história, o melhor é partir logo para a informação objetiva: você compra por R$ 4,00 (mais os impostos) um pacote de 30 torpedos para enviar aos seus amigos* e ganha o direito a um único cupom de participação na promoção”. Embora isto esteja no regulamento disponível na internet, ninguém na TV ou nenhum site diz objetivamente: OS 30 TORPEDOS NÃO SERVEM PARA O SORTEIO.
 
*Obs.: pode parecer detalhe tolo, mas a expressão “aos seus amigos” evitaria muita confusão.

Enfim, as informações adicionais seriam estas:
 
1- Cada R$ 4,00 dá direito a apenas 01 (um) cupom de participação ao longo de toda a Copa do Mundo;
2- Se alguém for contemplado num sorteio, o cupom não é eliminado da promoção, ou seja, ele volta à "urna" (por assim dizer) e o sortudo tem a chance de ganhar novamente com o mesmo cupom;
3- O pacote de 30 (trinta) torpedos da promoção não tem nada a ver com os sorteios. Em outras palavras, os torpedos não têm utilidade alguma para os sorteios; os torpedos do pacote podem ser enviados aos familiares e amigos (independente da operadora deles) e têm validade de 30 (trinta) dias a partir da data da compra;
4- Para cada pacote de 30 torpedos comprado, o participante recebe um único cupom para participar dos sorteios. Se o participante comprar dois pacotes (num total de 60 torpedos), ele terá o total de 2 cupons nos sorteios. E assim por diante.
 
Por que ninguém na TV nem nos sites das operadoras informa claramente isto? Em vez de esclarecer objetivamente, todos tergiversam  - aumentando ainda mais as dúvidas. Para exemplificar, cito o exemplo de um blog que uma das operadoras montou para esclarecer as dúvidas dos clientes quanto à promoção.
 
Um cliente, por exemplo, perguntou:
 
Pergunta: "comprei o torpedao e quando mando mensagem para 2010 com a palavra cupom,vem uma mensagem que tenho 0 cupom,sedo que usei os 30 torpedos que ganhei e a toda hora vem mensagens! oque poderia ser?"
 
Resposta: Olha, Ricardo, a geração do cupom pode demorar um pouco. E, além de enviar a palavra CUPOM para o número 2010, você também pode consultar seus cupons no site www.torpedaocampeao.com.br. De qualquer forma, se o tempo de espera estiver muito grande, entre em contato com o Atendimento para que eles possam verificar o seu caso.
equipe ClaroBlog
 
Observe que a "Equipe ClaroBlog" não entendeu (e obviamente não resolveu) a confusão que o cliente expressa na pergunta dele, ou seja, ele está considerando que os 30 torpedos comprados são “bônus” para participação nos sorteios. Ou seja: muito provavelmente ele possui celular pós pago e comprou, sem saber, 31 cupons, gastando ao todo R$ 124,00 (que pode chegar a cerca de R$ 150,00 com os impostos).
 
Outras perguntas e respostas:
 
Pergunta: "Não entendi muito bem, os 30 torpedos que eu ganhei,serve pra que? e como eu uso? Afinal eu concorro com os 30 torpedos ou pelos Cupons que eu tenho? Abrigado(sic)"

Resposta: Jorge, você concorre até o final da promoção com os cupons que adquirir. Pra saber quantos são, envie, grátis, a palavra CUPOM para 2010. Já o pacote de 30 torpedos podem ser enviados como mensagens de texto (salvo as exceções descritas no post) pra qualquer operadora. Ficou mais claro agora? Se não ficou, só deixar outro comentáqio, ok! E, boa sorte!
equipe ClaroBlog

Pergunta: "como faz para passar 30 sms para 2010??? por favor me ajude!!!"

Resposta: Então, Ana Carolina, funciona assim: cada vez que você envia uma mensagem para o número 2010, estará comprando um pacote com 30 SMS e também ganhando um cupom para participar dos sorteios da promoção. E você pode utilizar os 30 SMS para enviar mensagens para números de qualquer operadora, ok.
equipe ClaroBlog

Pergunta: Ola queria tirar uma dúvida... é q não entendi muito bem se pra cada pacote que eu compra é necessário q sempre compre o cupom po 4 reais ou se estes 30 torpedos são válidos para serem enviados como cumpos? Obrigadu se puder me responder!!!!"

Resposta: Então, Jairo, cada compra de pacote gera 1 cupom para participar dos sorteios. E cada pacote vem com 30 SMS para você enviar mensagens para o número de qualquer operadora.
equipe ClaroBlog

http://www.claroblog.com.br/conteudo.asp?post_id=504

Ora, os representantes da empresa não responderam de forma clara as dúvidas dos clientes, que provavelmente continuaram pensando que os 30 torpedos, "que você pode enviar para números de qualquer operadora", são bônus que devem ser enviados para o número da operadora do cliente.

Obviamente, não existe má-fé dos representantes, já que a origem de tudo está na própria futilidade do pacote de 30 torpedos (que veio mais para confundir do que para fazer um agrado) e na fantástica incapacidade da organização para esclarecer uma dúvida óbvia que está trazendo imensos prejuízos aos clientes. Enfim, espero que tal fator seja apenas incompetência mesmo.

(Publicado no Portal Nassif em 22 de junho de 2010)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Dossiê do PT - Versão 3.0.

Com mais um "escândalo de dossiê" (este da Verônica Serra, de 2010, já é o terceiro), vale a pena viajar no tempo para resgatar um fenômeno curioso, qual seja, como um partido político (com a ajuda da manjada mídia) conseguiu transformar em lucro político aquilo que era considerado um trunfo dos adversários. Refiro-me ao "Caso do Dossiê - Versão 1.0", conhecido como o "Dossiê dos Aloprados", de 2006, que deu origem à série. Para você que ainda não adquiriu a sua coletânia, eis a lista dos lançamentos:

Dossiê do PT - Versão 1.0 - 2006 - "O Dossiê dos Aloprados".Dossiê do PT - 

Versão 2.0 - 2008 - "O Dossiê dos Gastos de FHC".

Dossiê do PT - Versão 3.0 - 2010 - "O Dossiê da Filha do Serra".

Mas em vez de destacar o mais novo lançamento da mídia (a Versão 3.0 que já foi esmiuçada por Luís Nassif), melhor é partir para o curioso caso que deu origem à série: o Dossiê dos Aloprados. Curiosamente, até hoje ninguém se deu conta de que a origem da montanha de dinheiro (R$ 1,7 milhão!!!) usada para a compra de um dossiê fajuto ainda não foi devidamente explicada.

Bom, partamos do princípio de que o PT realmente comprou um dossiê contra José Serra na campanha eleitoral de 2006.

Mas convido você a fazer uma pequena viagem no tempo e seguir uma linha de raciocínio embasado em fatos com links alheios aos factóides da grande mídia. Se você não tiver paciência para ler o que segue abaixo, recomendo apenas o link do Luis Carlos Azenha, ex-jornalista da Globo que vivenciou a tramóia por dentro. Clique AQUI p/ ler o ótimo post "Proibido para quem tem menos de 30 anos" e constatar como alguns jornalistas jogaram a ética no lixo.

Agora, se você tiver paciência, siga a leitura...

Em 2006 estourou o "Escândalo dos Sanguessugas" que envolvia um esquema de compra de ambulâncias superfaturadas. Se vc. não lembra, a Wikipedia, embora não seja uma fonte muito confiável, traz um bom resumo.

A mídia deu ampla repercussão ao caso, acusando o então ministro da saúde Humberto Costa de estar em conluio com a máfia. Humberto Costa era candidato do PT ao governo de Pernambuco. A revista Veja destruiu, ou melhor, tentou destruir a reputação de Humberto Costa. Clique AQUI para ler.

O PT por sua vez isentava Humberto Costa; depois, descobriu-se que a máfia teve origem quando José Serra era ministro da saúde. Um vídeo institucional (aparentemente de propaganda política) mostrava o então ministro da saúde José Serra entregando ambulâncias a vários políticos que, posteriormente, foram flagrados no esquema. Clique AQUI para assistir ao vídeo ou pesquise no Youtube por "serra sanguessugas" que aparecerão vários vídeos sobre o tema. O vídeo obviamente não prova que Serra estava em conluio com a máfia, mas é evidente que isto seria demolidor para a campanha do PSDB, ou seja, Serra junto aos mafiosos entregando-lhes ambulâncias superfaturadas. E é evidente também que a mídia (que apoiava Alckmin para presidente e Serra p/ governador) abafou o vídeo que, repito, tratava de uma solenidade oficial.

Especulava-se na época que a campanha de Aloísio Mercadante ao governo de São Paulo pretendia usar tais vídeos para detonar a campanha de Serra. Era mera especulação, mas tudo levava a crer que sim.

Lula era candidato à reeleição e tudo levava a crer que ganharia a eleição no primeiro turno.

Às vésperas do primeiro turno das eleições de 2006, apreenderam num hotel uma montanha de dinheiro com "aloprados do PT" que pretendiam comprar um "dossiê" contra José Serra. Neste "dossiê" haveria "documentos" e "vídeos" contra José Serra. De repente, o negócio foi estourado pela Polícia Federal. Equipes de TV chegaram quase que instantaneamente à sede da PF.

Algo não fecha nesse escândalo e soa muito estranho: a forma como os "aloprados" (como Lula os chamou) aceitaram pagar R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo (até em notas miúdas, de R$ 10,00, para fazer bastante volume) por um "dossiê" que, soube-se mais tarde, não continha nada de escandaloso. Ainda por cima, as equipes de TV de prontidão na PF... Pior: horas depois do flagrante, a revista "Isto É" já circulava com os irmãos Vedoin acusando Serra. Das duas uma: ou os "aloprados" são muito imbecis; ou são "petistas" mercenários. Entenda-se como quiser.

Na época, por entender que ainda era um caso obscuro, a justiça eleitoral proibiu a divulgação das fotos da montanha de dinheiro às vésperas da eleição. A Globo e grande imprensa conseguiram as fotos de forma fraudulenta, com a ajuda do mesmo delegado da PF que flagrou o caso. O delegado, de forma ilegal, fotografou e autorizou a imprensa a "vazar" as fotos e disse que acusaria alguma faxineira pelo roubo e vazamento da foto. No vídeo, o delegado ensina aos jornalistas como atuar para não deixar suspeitas e atua como se fosse um "marketeiro" aliado do PSDB. Confira no vídeo, ou melhor, áudio publicado pelo jornalista Luiz Carlos Azenha:

https://www.youtube.com/watch?v=-rkSfSIuHAY

Obs.: o áudio acima foi gravado por um dos jornalistas presentes que ficou enojado com a ilegalidade.

A Globo e a grande imprensa guardaram o material para divulgar na véspera da eleição. Isto foi feito. O escândalo prejudicou muito a campanha de Mercadante e do próprio Lula. Por motivos óbvios, o escândalo acabou neutralizando os bombásticos vídeos (Serra e os sanguessugas) que a campanha do PT, supostamente, tinha em mãos. Pois se o PT mostrasse os vídeos na campanha, qualquer um iria associar os mesmos como sendo de origem criminosa.

Até hoje não se sabe a origem do dinheiro. O PSDB diz que é do PT; o PT diz que é armação do PSDB. Qual é, afinal, a origem do dinheiro? Ninguém sabe. Estranha-me o fato de que nenhum dos dois partidos (PT e PSDB) tivessem vontade de apurar. Em 24 de abril de 2007, o TSE decidiu por unanimidade que não havia qualquer prova que ligasse o PT ou qualquer dos seus membros ao chamado "escândalo do dossiê". Clique neste link:

http://agencia.tse.gov.br/sadAdmAgencia/noticiaSearch.do?acao=get&a...

Clique AQUI para ler que Humberto Costa foi inocentado por inanimidade na "Operação Vampiro" após o proprio MPF (autor da denúncia) ter pedido a absolvição do ex-ministro.

Cronologia do escândalo segundo a revista Carta Capital:

http://www.cosif.com.br/mostra.asp?arquivo=20061023escandalopsdb#re...

(Publicado no Portal Nassif em 04 de junho de 2010)



sexta-feira, 21 de maio de 2010

O dia em que Francisco Gros peitou Lula

Com o falecimento de Francisco Gros, julgo oportuno lembrar um episódio ocorrido em pleno calor da campanha eleitoral de 2002. Pois naquele ano veio à tona a discussão da construção das plataformas da Petrobrás na Ásia.

Na época, Lula criticou muito tal política de importar as plataformas, quando estas poderiam ser feitas no Brasil para gerar empregos e fomentar, ou melhor, ressuscitar a indústria nacional no setor.  O então presidente da Petrobrás Francisco Gros, falando pelo governo, rebateu Lula dizendo que era muito mais vantajoso para o Brasil a construção das plataformas fora do país. Disse ainda que o Brasil não tinha condições técnicas para disputar a licitação. Sem falar do alto custo... Uma reportagem da revista ‘Isto É’ (vide link ao final) sob o sugestivo título “Bate-boca em alto-mar” retratou bem o episódio.

 Eis um trecho da reportagem bem esclarecedor:

 As duas outras plataformas, a P-51 e P-52, ainda não foram alvo de licitações. Pronto, por enquanto, existe apenas o projeto de engenharia básica feito pelo Centro de Pesquisas da Petrobras, com detalhamento técnico da empresa norueguesa Aker Kvaerner. "O processo de licitação ainda não começou nem será restrito a empresas estrangeiras e, sim, a todas que tiverem recursos tecnológicos", afirma Gros. "São plataformas especializadas, só existem cinco delas no mundo e nunca foi construído no Brasil esse tipo de plataforma", comenta o presidente da Petrobras, deixando claro que dificilmente um estaleiro brasileiro teria condições de disputar a licitação.

 Claro: ao final do governo Fernando Henrique Cardoso, os estaleiros estavam quase todos quebrados e a Petrobrás vivia o pior momento da sua história, com sucessivos desastres que causaram muitos prejuízos principalmente no que tange aos danos ambientais. Pois que a febre da terceirização tão apreciada pela política neoliberal atingiu em cheio não só as indústrias nacionais, mas também o próprio corpo operacional da Petrobrás, com a contratação de funcionários terceirizados em setores que exigiam alta capacitação técnica. Por isto os sucessivos desastres, como o afundamento da plataforma P-36 causado, segundo a ANP, por erros de projeto e manutenção. Assim, ainda que não fosse esta a intenção, soou como galhofa a alegação de Gros de que os processos licitatórios “não eram restritos às empresas estrangeiras”, mas ressalvando que dificilmente um estaleiro brasileiro teria condições sequer de disputar uma licitação. 

Do horário eleitoral de 2002, lembro da insistência de Lula no assunto. Sobre o “alto custo” e a “inviabilidade técnica” que o governo de FHC alegou para justificar a importação das plataformas, Lula respondeu que nada era mais caro do que o desemprego dentro do país. Ou seja: ainda que fosse muito mais caro construir as plataformas dentro do Brasil, os empregos gerados dentro do país – inclusive com investimentos em pesquisas – já valeria a pena. E prometeu construir as plataformas dentro do Brasil.

Enfim, a realidade está aí: a Petrobrás, ano a ano, está alçando no ranking das maiores empresas do mundo ao passo que a indústria naval brasileira, ressuscitada, vive um momento de pujança.

Link para a reportagem da “Isto É”:

http://www.istoe.com.br/reportagens/23676_BATE+BOCA+EM+ALTO+MAR

(Publicado no Portal Nassif em 21 de maio de 2010)



domingo, 11 de abril de 2010

Programa "Soletrando" cometeu dois erros e deveria ser anulado.

No programa "Soletrando", do "Caldeirão do Huck", o apresentador Luciano fazia questão de dizer que as palavras sugeridas pelos telespectadores eram "sorteadas por computador". E quis o destino que o computador, ingrato com o mineirinho, escolhesse a palavra "kirsch", que vem do alemão e significa "aguardente de cereja". Qualquer um erraria. Mas o professor Sérgio Nogueira explicou que aquilo fazia parte das regras do jogo, ou seja, valem as palavras estrangeiras que são dicionarizadas Então tá.

A final entre a representante do Piauí e o representante de São Paulo inaugurou uma nova regra: a mesma palavra para ambos. Nada mais justo. Mas a palavra final foi "iâmbico". A menina pediu uma definição da palavra e foi prontamente atendida: "irônico, sarcástico, satírico.". Então a piauiense soletrou "h-i-â-m-b-i-c-o". O menino de São Paulo também pediu definição, que foi a mesma. E soletrou certo e foi campeão.

Os critérios para a aceitação das palavras é que as mesmas devem constar no dicionário, mas não é definido qual deles (Aurélio ou Houaiss, para citar os mais usados). Assim sendo, para ser realmente justo, há que se considerar que as palavras escolhidas devem constar em TODOS os dicionários e devem ter TODAS AS DEFINIÇÕES COINCIDENTES, ao menos nos dois dicionários mais populares no Brasil. E a esmagadora maioria das palavras trazem tal característica, ou seja, grafias e definições pacificadas em todos os dicionários. Se tal critério fosse respeitado, a final do "Soletrando" teria que ser anulada por dois erros.

O primeiro erro está na palavra "kirsch", que desclassificou o representante de Minas Gerais. A palavra foi realmente "dicionarizada" no Aurélio, mas no Houaiss (pelo menos na primeira edição, que possuo), "kirsch" remete à variante aportuguesada "quirche", onde está a definição. É exatamente o mesmo processo, por exemplo, da palavra "whisky", que no Houaiss remete à expressão aportuguesada "uísque", enquanto no Aurélio não há menção a "whisky" - e sim "uísque".

Outro erro está na definição escolhida pelo programa para "iâmbico": "irônico, sarcástico, satírico". Acontece que tal definição só consta no dicionário Aurélio; no Houaiss (repito: até a edição que possuo) consta apenas isto: "1- diz-se de ou verso composto por iambos"; "2- relativo a iambo". Então, você precisa consultar a palavra "iambo", no Houaiss, para saber:

"1- que ou o que compõe uma unidade de tempo breve seguida de outra longa (diz-se de pé métrico no sistema de versificação greco-latino)"

Só na terceira definição do Houaiss há uma menção ao cunho satírico em "iambo", mas note que o escopo é a modalidade de poesia: "3- modalidade de poesia satírica, própria da literatura francesa (...)".

Enfim, se o programa Soletrando quiser ser justo, o concurso final tem que ser anulado.

(Publicado originalmente no Portal Nassif em 11 de abril de 2010).




sábado, 27 de março de 2010

A campanha contra o papa

 No dia seguinte à escolha de Joseph Ratzinger como sucessor de Karol Wojtyla, publiquei um artigo cujo escopo era uma crítica ao conservadorismo da Igreja Católica na figura do novo papa. Pois a preocupação centrava-se na posição da Igreja Católica sempre contrária a temas sensíveis como, por exemplo, os métodos contraceptivos e o aborto em casos específicos respaldados pela justiça. Hoje, o artigo está disponível no site do Ministério da Saúde. Bom, este parágrafo inicial é para dizer que sou insuspeito para (se alguém assim imaginar) defender Joseph Ratzinger. Pois o propósito verdadeiro é refutar o mau jornalismo.

 O último noticiário sobre o suposto “acobertamento de pedofilia” por parte de Joseph Ratzinger é mais uma daquelas reportagens (factóides) criadas em cima de leituras enviesadas de documentos verdadeiros. Ou seja: uma vez definido o lide da notícia, saem à cata de quaisquer fatos que, no fim das contas, servem para preencher o molde que dará forma ao monstro. Saliente-se que não estou me referindo ao “conjunto da obra” dos acobertamentos de pedofilia dentro da Igreja. Vale repetir: refiro-me ao último noticiário.

Não vem ao caso esmiuçar, aqui, os reais motivos que puseram a mídia mundial contra Joseph Ratzinger. O fato é que a reportagem do The New York Times é típica daquelas que já deveriam ter nascido mortas – haja vista a falta de nexo de uma história que, por fim, acaba até desviando o foco dos vários outros casos vivos de pedofilia dentro da Igreja que merecem ser apurados e denunciados. Mas não: no momento, o jornalismo precisa centrar fogo na pessoa de Joseph Ratzinger. Pois, para o jornalismo de resultados, nada interessa senão a espetacularização, a qualquer custo, de um escândalo envolvendo uma pessoa célebre, ainda mais sendo o papa. Ora, se há uma denúncia grave a ser feita, que esta seja alicerçada em argumentos sólidos que venham a sustentar de forma coerente o enredo da notícia. E o que estamos assistindo?

Para clarear a coisa, vamos tentar sintetizar a denúncia...

Jospeh Ratzinger, na condição de cardeal na década de noventa, teria recebido cartas alertando sobre os abusos sexuais praticados pelo padre Lawrence Murphy. E as cartas pediam que a Igreja Católica tomasse, segundo a reportagem, “providências para restaurar a confiança da comunidade”. E vem a acusação: na época, Ratzinger, que respondia pelo destino dos padres, “nunca teria respondido as cartas”. Já aqui, se o propósito é acusar alguma falha de Ratzinger, encontramos um paradoxo: se o teor das cartas era para acusar o problema para que, enfim, fossem tomadas providências para a “restauração a confiança da comunidade” (leia-se “remediar a imagem da Igreja”), então qual o crime em não respondê-las? Ou melhor: o que responder se (segundo documentos levantados pela reportagem) as providências já teriam sido tomadas pela própria Igreja local e pela justiça norte-americana após as denúncias chegarem à polícia?  Mas o pior não é isto.

O que segue na reportagem é o próprio desmonte do escândalo em cima de Ratzinger – mas que, haja vista o cunho demolidor da notícia (“Papa Acoberta Pedofilia”), acaba ficando estéril ao leitor menos atento. Lembre-se que “acobertar”, no caso, traz o sentido não apenas de “proteger”, mas também de “patrocinar”; “dar condições”; “ser conivente”... Você pode não simpatizar com o papa, mas de jeito algum parece plausível que isto tenha acontecido. Ao menos neste caso.

Pois a reportagem diz que os abusos do padre Murphy foram cometidos há mais de 35 anos. Ou seja: o assunto só teria chegado ao conhecimento do então cardeal Ratzinger vinte anos depois dos crimes praticados pelo padre pedófilo, quando o mesmo já se encontrava recluso, velho e doente. Ainda, quando Ratzinger recebeu as cartas, Murphy já tinha sido oficialmente suspenso de suas funções e já respondia  a um processo aberto pela Diocese de Wisconsin e também pela justiça comum que, diga-se de passagem, não deu andamento ao caso. Murphy então, muito adoentado, teria escrito para Ratzinger dizendo-se arrependido pelo que fez e pedindo o fim do processo. O processo então (dentro da Igreja) foi arquivado e pouco tempo depois Murphy veio a falecer.

Em resposta à reportagem do NYT, religiosos católicos do mundo inteiro têm sido uníssonos em abominar a pedofilia dentro da Igreja da mesma forma com que condenam o que chamam de "campanha" contra o papa.

(Publicado originalmente no Portal Nassif em 27 de março de 2010)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sobre a retirada dos vídeos do YouTube

Tenho recebido várias mensagens solicitando uma nova publicação dos vídeos 'Pink Floyd & Mágico de Oz", que foram por mim legendados.

Infelizmente, a MGM (Metro-Goldwy-Mayer) solicitou a retirada dos vídeos "Pink Floyd & Mágico de Oz" do YouTube, por entender que os direitos autorais estavam sendo violados. Particularmente, acho um equívoco da gravadora - já que muitas pessoas se interessaram em assistir ao filme na íntegra depois que os vídeos foram divulgados. Enfim, este é um direito da gravadora que não cabe discutir.

Mas foi uma pena... Pois, modéstia à parte, os meus vídeos (entre tantos disponíveis) se tornaram os mais populares (do gênero, claro) do YouTube exatamente por mostrar nas legendas não só todas as coincidências, mas também o de narrar ao espectador o que estava acontecendo no enredo do filme (providência fundamental para a perfeita compreensão da sincronia).

Alguém (que não conheço) publicou os vídeos novamente no Youtube em 5 partes. E a MGM, ao que parece, solicitou a retirada dos vídeos - mas apenas a Parte 5 foi deletada. Tenho recebido inúmeros pedidos por e-mail (exibido na legenda da Parte 1) para que eu publique a Parte 5. Obviamente não tenho como atender, já que não sou dono do tal canal do Youtube.

Eis o link para o meu canal:
http://www.youtube.com/user/mikesaba5